- Site: http : // www . altair-mr . weebly . com /
- Página no Facebook: https : // www . facebook . com /pages/Altair-Os-Sete-Guardi%C3%B5es/230535270316452?ref=hl
Última edição por MarianaRezer em Sáb maio 04, 2013 9:18 pm, editado 1 vez(es)
Essa história não é sobre mim. É sobre uma caixa.
Ela não deveria ter mais que vinte centímetros de comprimento e quarenta de largura. Feita inteiramente de madeira rústica, forte e resistente. Seus parafusos estavam bem apertados, o que pode ser considerado seguro – mesmo que eu tenha os aparafusado (e eu não confio muito em nada que eu faça). Suas paredes estavam cobertas por alguns adesivos de super-heróis, bandas e filmes antigos do lado de fora.
E o que ela guardava? Uma mensagem.
Uma simples – mas importante – mensagem. Que deveria ser entregue antes do amanhecer, prazo que acabaria em uns 20 minutos. De preferência, antes que as freiras do Orfanato em que eu vivia acordassem com o alarme de segurança que disparara por minha causa e começassem a revistar os dormitórios.
Para quem deveria ser entregue? Ninguém em especial.
Havia, também, outra caixa. Mas eu mantinha apenas essa debaixo do braço, enquanto andava a passos largos pelas ruas praticamente vazias de New Dorp.
Minhas mãos estavam escondidas nos bolsos da jaqueta de capuz azul marinho. Eu encarava a todos com os olhos estreitos. Meus tênis surrados continuavam a se encontrar de maneira não muito educada com o chão. As poucas pessoas acordadas àquela hora da madrugada passavam reto. Eu parei de caminhar. Olhei para um lado, olhei para o outro.
A grande calçada seguia em linha reta, como uma grande serpente de cimento claro, ao lado da grande porção de areia, seguida da praia. As ondas quebravam timidamente no litoral, como se estivessem com medo de acordar o mundo.
Revelei meu rosto assustado, antes coberto pelo capuz, ao mirar o céu daquela madrugada. Pude sentir meus olhos refletindo as nuvens de tempestade que ali se formavam, e segui rapidamente em direção ao porto. Os aproximados vinte metros esquecidos pela população da cidade me fizeram pensar que este seria o lugar perfeito para esconder segredos. Não meus, mas da caixa – que parecia expor tudo que tentei esquecer ao longo dos anos.
Mas aqueles não poderiam ser os meus segredos. Não mais.
Sacudi a cabeça em negação por reflexo e segui pelo velho e ignorado porto, até encontrar a escada lateral. Quando meus tênis encostaram-se à areia, escutei o retumbar de um trovão.
Amaldiçoei a mim mesmo por não trazer um guarda-chuva e adentrei a pequena caverna de madeira que se formara abaixo do porto. Olhei para o chão pela primeira vez e avistei o mesmo buraco que eu havia feito três dias atrás. Tudo parecia estar em ordem.
O prazo acabaria em questão de minutos, mas se havia algo que eu fizesse em que poderia se colocar confiança, era me livrar de castigos com ótimas desculpas. Dessa vez, por exemplo, acredito que ladrões estariam envolvidos. Porque os alienígenas já tinham sido utilizados da última vez.
Não é como se eu costumasse fugir tanto assim do Orfanato, essas foram pequenas - e importantes – exceções.
Outro pequeno – e importante – fato: eu não tenho qualquer ou sequer uma única e mísera lembrança dos meus pais. Recordava-me apenas do fogo. Dos gritos, da dor e do abandono. Sempre fora apenas eu e meu irmão mais novo. Órfãos de esperança e maltratados pelas circunstâncias do que você pode, ou não, chamar de destino. Sozinhos, mas unidos. E convivo muito bem com isso há mais de uma década, obrigado.
Mais um: meu nome é Jake. Não, não é algum tipo de apelido para Jacob ou James. Jake é o meu nome e eu simpatizo muito com ele, não há de quê. Ah, sim, eu tenho sobrenome – mas você não precisará dele para saber quem eu sou. É indiferente. E eu nunca precisei.
Minha melhor habilidade: fazer inimigos. Como se eu gostasse disso. Prazer.
Infelizmente, essa história não é sobre mim, voltemos à caixa.
Fitei o buraco mais um pouco, segurando a caixa, agora, com ambas as mãos. Era quase difícil deixá-la. Agachando-me, revi a outra caixa da história, menor e mais patética que a primeira. Ainda era possível enxergar o “ROBBIE” escrito com a minha caligrafia, usando uma antiga caneta sem tinta – mas de ponta realmente afiada – que eu achara nos fundos da minha mochila. Aquele era o túmulo de um velho (e por algum tempo, meu único) amigo.
E fitei o buraco pela última vez, largando a segunda caixa dentro dele. A tempestade desabou antes do amanhecer e eu desabei sobre a caixa.
Era mais que difícil deixá-la. Pois o que ela guardava era uma mensagem, uma simples mensagem, sobre mim mesmo. E não importava o quanto eu tentasse lutar contra isso, argumentando que havia mudado, que nunca seria o mesmo ou até mesmo que nunca fui aquele eu. A caixa continuaria a conter uma simples mensagem sobre Jake Dawnson.
Porque eu era a caixa.